Tão Bonitos Que Dá Vontade de Lambê-los.
Por André Wilson
No lançamento do Mac, foi isso que o lendário Steve Jobs disse:
“Os botões do Mac OS são tão bem-feitos que você vai querer lambê-los.“
STEVE JOBS
E os materiais de estudo para concurso de hoje são tão bem-feitos…
Completos, organizados e coloridos…
Com questões comentadas…
Quadro resumo, estatísticas, mapas mentais…
São tão bonitos que dá vontade de lambê-los.
E nem falei daquelas videoaulas gravadas em estúdio profissional (tipo Rede Globo) com professores bem-vestidos e maquiados (como os da Rede Globo).
Lindos, lindos, lindos!
Pena que esses materiais estão prejudicando seus estudos e diminuindo suas chances de aprovação sem você perceber.
Você sabia disso?
Da Apostila de Banca de Revista
Ao Material Que Dá Vontade de Lamber
Nos primórdios, o concurseiro tinha poucas opções:
- Comprar apostila na banca de revista (superficial e cheia de erros);
- Estudar por livros acadêmicos (improdutivo e entediante);
- Fazer curso preparatório presencial (para quem tinha dinheiro).
Naquela época, as aprovações costumavam vir dessa última opção, porque, apenas nos cursinhos, os alunos encontravam aulas direcionadas, apostilas mais completas, provas anteriores e possibilidade de tirar dúvidas com os professores.
É bom lembrar que o mundo ainda era analógico, e até conseguir uma simples prova, era necessário ir à sede da banca organizadora para tentar tirar uma cópia.
Com o avanço da internet, alternativas mais modernas (e eficientes) foram surgindo:
- Livros direcionados para concursos;
- Cursos em PDF (com tira dúvidas);
- Videoaulas;
- Sites de questões comentadas.
No início, esses materiais eram mais simples.
Os livros e os cursos em PDF eram objetivos e evitavam-se os pormenores.
As videoaulas costumavam ser curtas e os sites de questões eram cirúrgicos nos seus comentários.
Mas, de uns anos para cá, o mercado de concursos sucumbiu a algo que os concurseiros (secretamente) sempre desejaram: Ler Teoria.
Então, houve uma enxurrada de materiais-tão-bonitos-que-dá-vontade-de-lambê-los, mais completos, didáticos e lindos.
Tudo com o objetivo de aumentar a fluência da leitura (e as vendas).
E ficaram enormes também!
Cheios de penduricalhos-inúteis-que-dizem-que-ajudam-a-aumentar-o-desempenho, baseados em métodos e teorias de aprendizagem “inovadores”, que carecem de mais estudos científicos.
Até os sites de questões entraram na onda.
Os comentários de hoje parecem livros, e alguns têm até explicação por vídeo!
E as videoaulas são Lives que duram 3 horas.
Brown, Roediger, McDaniel
E as Ilusões da Fluência
Segundo os estudiosos da aprendizagem (os 3 senhores acima), ilusões da fluência resultam de nossa tendência a confundir a fluência textual com o domínio do conteúdo.
Por exemplo, se você ler uma apresentação lúcida sobre um conceito difícil, pode ter a ideia de que o conceito é muito simples e até pense que já sabia.
Em outras palavras, os materiais-tão-bonitos-que-dá-vontade-de-lambê-los facilitam a leitura e criam uma falsa sensação de domínio do assunto.
É o que os psicólogos gostam de chamar de ilusão da fluência.
Se você leu alguma vez um livro de autoajuda, já deve ter percebido esse efeito.
Livros de autoajuda são construídos para gerar fluência textual, para que o leitor sinta domínio do conteúdo, e se convença que as técnicas, receitas e orientações são fáceis de implementar.
Tudo é lindo e maravilhoso até que tentamos colocar em prática.
Se o material é didático, ler se torna agradável.
E se a videoaula é bem-feita, dá para “maratonar” como série da Netflix.
Mas, por que estudar tanta teoria, se o que fará você passar em concurso público é praticar com questões de provas anteriores?
Quer Fazer Um Mingau?
Ignore a Embalagem
Permita-me desviar um pouco do assunto.
Adoro mingau de aveia! É delicioso!
Como diz minha esposa, homem nunca deixa de ser criança. 🙂
E o que percebi nos últimos anos foi que as embalagens estão modernas, mas o conteúdo é sempre aquele saquinho plástico horroroso, onde fica a aveia sem graça.
Mas, se a embalagem não é necessária para fazer o mingau, por que as empresas investem tanto nela?
É que os clientes (secretamente) desejam uma embalagem bonita e bem apresentada, e não apenas comer aveia.
Por isso, as empresas capricham na embalagem.
Mesmo que o efeito no sabor do mingau seja nulo.
Imagine-se participando de uma competição culinária (deliciosa), onde o vencedor será aquele que apresentar o mingau de aveia mais saboroso.
Você perderia tempo com a embalagem ou partiria logo para praticar com a aveia até conseguir o melhor mingau do mundo?
Agora, vamos voltar para o mundo dos concursos.
Para vencer a concorrência, vale a pena estudar tudo que estiver disponível nos materiais-tão-bonitos-que-dá-vontade-de-lambê-los, ou é melhor ir logo para os exercícios e começar a praticar?
Como Usar os Materiais (Lindos)
Do Jeito Certo
Não me interprete mal.
Quando comparei os materiais atuais à embalagem de aveia, forcei a barra um pouco.
Os materiais de estudo de hoje são excelentes.
Sinceramente, minha vida de concurseiro teria sido muito mais fácil se eles existissem naquela época.
Mas o problema é que eles acabam estimulando o concurseiro a ler mais teoria que o necessário, o que prejudica seu desempenho na prova.
Atualmente, os materiais seguem esta estrutura:
- Videoaulas (Teoria);
- Conteúdo em PDF (Teoria);
- Resumo, Esquemas e/ou Mapa Mental (Teoria);
- Questões Comentadas (Teoria);
- Lista de Questões (Prática).
Percebe quanta teoria você está estudando?
Não sei a fórmula para a aprovação em concursos públicos (ninguém sabe; apesar de gurus de concursos jurarem que podem ensinar), mas a fórmula para se dar mal na prova eu conheço bem: estudar muita teoria.
Foi assim que tirei zero na prova de AFO do TCU no primeiro concurso que fiz para valer, e fui eliminado do certame.
Então, proponho que você faça o seguinte:
- Videoaulas (Teoria): ignorar (você já se deu conta que assistimos a aulas expositivas de Português e de Matemática a vida toda, e muita gente ainda tem bastante dificuldade nessas disciplinas?);
- Conteúdo em PDF (Teoria): se é seu primeiro contato com a matéria, ler tudo. Senão, você deve ignorar;
- Resumo, Esquemas e/ou Mapa Mental (Teoria): se você leu o conteúdo em PDF, pode ignorar. Se já estudou a matéria alguma vez, passe o olho no resumo e vá direto para lista de questões;
- Questões Comentadas (Teoria): ignorar (ler os comentários antes, irá dar a você a falsa sensação que entendeu o assunto quando for testar seu conhecimento com a lista de questões);
- Lista de Questões (Prática): faça todas as questões (sem olhar a resposta e/ou comentário).
Apenas para as questões que você errou ou ficou em dúvida, faça isso:
- Tente encontrar a resposta no conteúdo em PDF;
- Se não encontrar, ou continuar em dúvida, leia o comentário apenas da questão que você errou (se o comentário for muito grande, pare imediatamente quando esclarecer sua dúvida).
Pronto.
Evite as videoaulas.
Só as use em caso de emergência, quando você não consegue compreender a matéria mesmo com todo esforço.
Se precisa fazer resumos, esquemas e/ou mapas mentais para fortalecer sua aprendizagem, faça o seguinte:
- Espere algumas horas depois de ter lido a teoria ou aguarde até o dia seguinte (resumir depois de ler teoria tende a ser um método de memorização pouco eficaz);
- Elabore resumos, esquemas e/ou mapas mentais sem consultar o material teórico;
- Depois verifique o material teórico e faça as correções e/ou complete o que faltou.
Com isso, você transforma um estudo passivo em uma prática ativa.
Fim Por Hoje.
Deu Fome.
Vou comer um mingau de aveia.
Para fortalecer seus estudos,
André Wilson
PS. Se eu pudesse escolher apenas duas coisas decisivas para ser aprovado em concursos, elas seriam: prática e feedback.
Quando escrevo esta postagem para você, estou praticando para escrever melhor.
Mas preciso da sua ajuda com o feedback.
Então, mande uma mensagem para o WhatsApp (61) 99636 4881 falando o que achou útil do conteúdo e o que preciso melhorar nas próximas postagens.
Vou adorar receber seu feedback, porque assim poderei evouluir.
Obrigado! 🙂
André Wilson. É sócio-fundador da Customiza Concursos. Analista de Administração e Finanças da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, aprovado em 3.º lugar (2010 – São Paulo). Bacharel em Administração, com MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e University California (UCI). Membro da Sociedade Brasileira de Coaching. Certificado pela The Inner Game International School. Outras aprovações: Analista Administrativo – Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ (6.º lugar) e Analista Administrativo – Área Administração – Agência Nacional de Águas – ANA (7.º lugar).
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